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A pseudocrítica en ‘Recortes, caneos e outras formas de driblar’

'Recortes, caneos e outras formas de driblar' do CDG & Ainé Producións. Foto de Aigi Boga.
'Recortes, caneos e outras formas de driblar' do CDG & Ainé Producións. Foto de Aigi Boga.

Quiger driblar a masculinidade, mas semelha impossível. O teatro é o lugar no que eu caneava, dende que assistim a umha obra profissional por primeira vez aos 17 anos, as violências do patriarcado e a cisheteronorma. O futebol representa todo isso. É o espetáculo masculino por excelência. Aquela peça á que assistim com 17 anos estava dirigida pola mesma pessoa que assina a direçom cénica do espetáculo que, há uns dias, me fijo sentir umha incomodidade tal que creio que nunca sentira no teatro.

Quando era adolescente passava os recreios na biblioteca. O pátio estava ocupado no seu centro por um partido de futebol constante, no que era estranho ver algumha pessoa nom masculina. O resto da gente, se queria, podia ficar nas margens desse campo, sempre sem molestar, ou nem sequer sair ao pátio. Isto implica umha violência espacial que nos ensinou o nosso lugar no mundo dende que somos crianças.

Recortes, caneos e outras formas de driblar começa sendo a descriçom cénica da ideia que temos do futebol. No meio de vários jogos cénicos baleiros mas efeitistas, até se interatua co público. Esta interaçom é a demagogia teatral clássica por excelência, ganhar o público de forma fácil. Bem é certo também que o que produzem estes jogos iniciais é, nom só a cumplicidade do público própria destas demagogias, senom também a conversom deste teatro num estádio de futebol, o qual, como mínimo, é coerente dramaturgicamente.

Chega um momento no que parece que se vai produzir um giro brechtiano, polo que toda essa incomodidade que sentim, enquanto a maioria do público estava a seguir e participar na simulaçom dum partido, estaria até justificada. Parecia que se iam pôr do nosso lado, entender as dissidências. Se quadra uso muito esta palavra, dissidências, gasto-a demasiado, mas é que teimades em me lembrar que som dissidente.

Nesse momento de pseudodistanciamento acaba por se amossar o considerado por algumha gente «o melhor jogador de todos os tempos» como umha vítima mais da máfia do sistema futebolístico e como símbolo da paixom que pode com toda essa máfia. Esse senhor foi, nom só umha peça fundamental do gram futebol, senom também um dos filhos mais sans que pariu o patriarcado. Desenhar este personagem como inocente é praticamente un insulto.


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Há posteriormente outro momento no que semelha que se vai fazer umha crítica, desta vez focada diretamente, agora sim, sobre essa masculinidade que invade o futebol. E, se calhar, esse é o único momento no que vemos um discurso minimamente crítico de verdade, já polo feito de se pôr em valor o futebol feminino.

Logo vém a gram burla a quem critica a agressividade do futebol. Parecia, novamente, que realmente ia ser umha crítica real à agressividade (masculina) do futebol, pero nom. A cena consistia numhas gradas dum estádio coa gente a se comportar de forma exageradamente sóbria, mais isso nom foi o pior. Após isto, Touriñán solta um discurso sincero admitindo toda a merda do futebol e cai o pano numha situaçom depressiva, mas isso era um falso final. O pior foi o número musical que véu a continuaçom, no que se justifica todo pola «paixom». Fica apagada toda mínima crítica que pudesse haver. Em sério a «paixom» pode xustificar todo?

Quiger lembrar o Iker Casillas a brincar coa ideia de ser maricom há uns dias no Twitter, ainda que posteriormente usasse a escusa de que lhe hackearan a conta ante as críticas recebidas. Porque o futebol segue a ser isso: unha engrenagem fundamental do patriarcado. E se falo de forma tam agressiva, e se por primeira vez elaborei umha opiniom intencionadamente negativa num artigo, é porque levastes ao teatro, ao nosso espaço seguro, a incomodidade da adolescência de quem habita as margens, e acabaste-la por justificar.

Textos: Nacho Carretero

Dramaturgia: José L. Prieto

Direçom: Tito Asorey

Elenco: Xosé A. Touriñán, Manuel Cortés, Christian Escuredo, Xoán Fórneas, Isabel Garrido e Sergio Zearreta

Cenografia: José Faro ‘Coti’

Iluminaçom e audiovisuais: Laura Iturralde

Assistente de iluminaçom: Ángel Sousa

Composiçons musicais: Vadim Yukhnevich

Coreografias: Mónica García

Ajudante de direçom: Sara Rey

Vestiário: Laura Baena

Recortes, caneos e outras formas de driblar, do Centro Dramático Galego e Ainé

Vista o 9 de outubro de 2022 no Salón Teatro de Santiago de Compostela

ê Ariel Q. Sesar

ê Ariel Q. Sesar

Ê Ariel Q. Sesar (esse "ê" é um artigo), pessoa de género incerto. Frequentei as aulas de Dramaturgia na ESADg, embora nunca chegasse a rematar os estudos. Agora frequento aulas de Ciências da Linguagem na UVigo. Escrevo dende a dissidência. Identifico-me e defino-me como dissidente na arte, na língua, no género e na vida.

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