Meu avô criou-se numha casinha perto da casinha da família Casanova, na Castanheda. A meu avô agora falha-lhe a memória e nom lembra bem quem era Ana Kiro, mas lembra perfeitamente de jogar na infância com Lola Casanova, que marchou sendo nena para a capital catalá.
Público a ambos lados deixando umha passarela numha igreja neoclássica do centro de Riba d’Ávia. Brigitte Vasallo, a grande transfeminista autoetnografista txarnega, desenha unha conferência performática sobre a memória txarnega nessa passarela partindo dela mesma, partindo da memória dumha catalá queer filha de migrantes galegues.
No ano 2019 celebra-se em Barcelona o I Festival de Cultura Txarnega. Destaca na organizaçom deste festival Brigitte Vasallo, a mesma que protagoniza a mostra que vimos em Riba d’Ávia baixo a direçom de Gena Baamonde. O festival causa certa polémica e recebe muitas críticas, muitas delas eram diretamente insultos à Vasallo. Ante isto, e perante todo o que nos contou nesta conferência cénica na MIT, eu pergunto-me: por que causa tanta polémica revindicar a memória txarnega? E fum procurar essas críticas das que falava a Vasallo, tentando, polo menos, conseguir entender a polémica.
Nom atopo quem me convença do anticatalanismo e espanholismo de Brigitte Vasallo, mas estou aberte a que mo expliquedes sem problema nengum. O que atopo é que molesta que se ponha em dúvida um relato nacional, neste caso o relato nacional catalám. E o que nom atopo em Vasallo é algum ápice de espanholismo.
Entendo que há dous tx/charneguismos: o que escrevem com tx- e o que escrevem com ch- (reduçom minha, a realidade é mais complexa), até dalgumha forma Vasallo explica isto, e falando com algumhes amigues catalaes puidem entender algo por que este termo causa tanto rejeitamento. Creio que devemos separar o charneguismo espanholista e o txarneguismo reivindicado pola Vasallo. O primeiro contrapom o ser charnega a ser catalá, enquanto o segundo defende nom serem etiquetas incompatíveis. Vasallo nom vai contra a cultura catalá, nom nega a opressom nacional, vai contra o relato da burguesia catalá e da burguesia espanhola.
Vasallo vai construindo na Igreja da Madalena umha sala de exposiçons efémera coa ajuda do público. Cria num espaço de pedra baleiro de há três séculos um espaço de partilha de memória. As fotos da exposiçom txarnega por cima das cabeças do público. E lança várias perguntas para construir umha espécie de ensaio oral.
As primeiras fotos que colga responderiam à pergunta básica: “que é ser txarnega?”. De todas as respostas possíveis fico coa ideia de que ser txarnega é ser a estrangeira em Catalunha e a catalá no teu lugar de origem. Também na língua: a Vasallo nunca será o suficientemente catalá e nunca falará o suficientemente bem catalá, por muitos anos que leve lá, nem será nunca o suficientemente galega nem nunca falará o suficientemente bem galego, por muitas raízes que tenha cá.
Eu nunca vivim em Catalunha, fum só duas vezes na minha vida, mas na Galiza ouves a frase “o galego mal falado é o que nom se fala” à vez que dalguma forma se lembra que “o galego há que mamá-lo”. Cada vez ouve-se menos esta segunda frase, mas a ideia segue, segue a lembrar-se-lhes aes neofalantes, dumha forma ou doutra, que nunca falarám como umha pessoa nativa.
Com todo, o que me conta a gente catalá da minha geraçom é que nas geraçons mais novas já nom existe esta problemática, e que, de feito, quem alimenta a ideia de que a gente vinda de fora nunca será catalá™ é o próprio espanholismo. Da mesma forma que, ainda que haja quem faga muito ruido, cá na Galiza o mais comum é celebrar que alguém de fora se interesse pola nossa língua e cultura.
Com isto nom quero eu desacreditar a experiência pessoal da Vasallo, possivelmente lhe figeram sentir que ela nom era catalá™, mas, polo que vejo, o debate é demasiado complexo como para resumi-lo neste artigo, assim que seguirei analisando teatro.
Nesta primeira parte pede-lhe a dous cantos do público que colguem num fio que havia cima das suas cabeças as fotos que lhes dava, que eram fotos que a gente levara ao Festival de Cultura Txarnega. Fotos que considerou representativas da cultura txarnega. Fotos de lembranças felizes e de feridas abertas.
A utilizaçom do público inicia um clima de confiança no espaço, converte-o num espaço de partilha, ainda que só fale ela, nom tanto na aula que ouvíamos no seu discurso oral. E segue esta partilha quando lhe pede diretamente a Andrea Nunes, sentada no público, que pugera A miña aldea de Ana Kiro no seu telemóvel. E a Vasallo fijo-lhe um altar à grande txarnega nada na Castanheda. Já o tínhamos todo para o ritual.
Mas por que causa tanta polémica? Ao público do canto do espaço no que eu estava dá-nos uns quantos papéis para pendurar no nosso fio. Nos outros dous cantos as fotos colheram perfeitamente, mas no nosso fio nom havia suficiente espaço para tanta merda. Chegou um ponto no que começamos a pendurar papéis debaixo doutros papéis. Eram tuits carregados de insultos dirigidos à Vasallo, críticas em médios de comunicaçom de todo menos construtivas, e mais merda. A sensaçom de nom termos espaço para tanta cousa agrandava os insultos, fazia-os exagerar ainda mais do que já eram.
A seguir, usa o chao de pedra da igreja a modo de piçarra para nos explicar a história industrial catalá. Assegurou-me Gena que o giz nessa pedra era mui fácil de remover, nom é um atentado ao património, fico tranquile.
Sentencia Vasallo que “todas as famílias que se figêrom ricas na Cuba do s. XIX foi pola escravitude, todas”, incidindo diretamente na família Güell. E um amigo catalá di-me que “isso aqui todo o mundo o sabe”. Sim, possivelmente na Catalunha todo o mundo o saiba, mas a Vasallo estava-lhe falando a um público galego que conhece (conheço) o apelido Güell polo parque famoso que há em Barcelona. Igual quando logo fijo um paralelismo coa Galiza o entendemos melhor: a família Barrié fijo a sua fortuna em Cuba, montou empresas aqui, tivo altos cargos franquistas e agora tem boa imagem porque a Fundación Barrié financiou a RAG e o ILG (no caso de Güell, financiárom a Gaudí, o resto é quase igual). O quarto canto do público, o que faltava, encheu-se com isto.
Onde fica a língua em todo isto, além do que já dixemos? Dixo Alessandra García, no espetáculo que vimos após esta mostra: Mujer en cinta de correr sobre fondo negro, que o único que nos diferencia atualmente som as línguas. A mostra da Vasallo, que deu em chamar logo QUEIXA (què volem aquesta gent), foi em galego, com alguma frase em catalám e castelám.
Desde o espanholismo alimentou-se a ideia de que a burguesia catalá fala catalám e as classes populares falam castelám, pero nom vou por aí, nom vejo que a Vasallo alimente este discurso.
Baixo a minha perspetiva e polo que nos contou, Vasallo tem três línguas maternas: galego, castelám e catalám. Se a língua materna é aquela na que te criache, terás que ter em conta a(s) língua(s) que aprendes socialmente ou na escola e a(s) que che falam na casa a família. Mas que é umha língua materna? Porque ela di que nom tem língua materna, di que a sua língua materna é a miséria. Quiçá a resposta a isto está no que expliquei antes sobre que é ser txarnega.
Por último, como fala e por que? Esta pergunta vem porque ao começo do espetáculo, Brigitte Vasallo di que quer fazer um ensaio oral e nom escrito, porque quer falar para aquelas às que chamárom analfabetas. O analfabetismo é umha ideia classista criada polo capitalismo que ignora a literatura oral, de aí parte a forma desta conferência performática.