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‘Une Cérémonie’ de Raoul Collectif

A vida como cerimónia coletiva

'Une Cérémonie' de Raoul Collectif. Foto: Céline Chariot.
'Une Cérémonie' de Raoul Collectif. Foto: Céline Chariot.

A necessidade de decidir, em comunidade, fazer qualquer coisa que nos faça sentir mais vivos, sem que ninguém decida por nós. A necessidade de procurar o sentido da nossa vida. Estas poderiam ser algumas das pulsões que animam Une Cérémonie de Raoul Collectif (Bélgica), o espetáculo que encerrou o 40º Festival de Almada 2023.

Procurar o tema do espetáculo, entre todos, elenco incluído, pode ser o mesmo que encontrar o mote da vida: a música, a aventura, a cólera, a exaltação… a morte, dizem. A única certeza: todos sabemos que vamos morrer, mas, quase de imediato, surge a dúvida, não sobre essa certeza, mas sobre o facto de esse ser o sentido. Eis a dúvida, como em Hamlet. E, através dela, a revolta. Assim sendo, aparece uma crítica direta e, ao mesmo tempo, poética, contra o fascismo atual, disfarçado ou descoberto, contra o poder que explora e precariza.

Estamos ante uma das companhias europeias de referência que trabalha o “devised theatre” ou teatro de criação coletiva, sem a figura de um encenador. Fazem peças que não têm um guião ou texto prévios. Portanto, tudo surge da interação na sala de ensaios. Se calhar, por isso o resultado artístico é tão fresco, quase como se fosse uma improvisação. A música ao vivo, o jogo com figuras ancestrais, feitas com objetos reciclados, e a celebração, bebendo, cantando, discutindo, concordando e brincando, são a maneira de partilhar connosco as suas inquietações. Uma peça coral em que, pelo meio da diversão, se abre caminho para a reivindicação e a rebelião, de maneira surpreendente e contagiante.


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(Agradecimentos a Ana Dias [CIAL. Centro de Línguas. Lisboa] pela ajuda na correção linguística deste artigo)

Une Cérémonie de Raoul Collectif (Bélgica)

Conceção, texto e encenação: Raoul Collectif

Interpretação: Romain David, Jérôme de Falloise, David Murgia, Benoît Piret, Jean-Baptiste Szézot, Philippe Orivel, Julien Courroye, Clément Demaria e Anne-Marie Loop

Cenografia: Juul Dekker

Figurinos: Natacha Belova e Camille Burckel

Desenho de som: Julien Courroye

Desenho de luz: Nicolas Marty

Direção técnica e arranjos musicais: Philippe Orivel

Aconselhamento musical: Laurent Blondiau

Co-produção: Théâtre National Wallonie-Bruxelles, Théâtre de Namur, Mars – Mons Arts de la Scène, Théâtre Jean Vilar de Vitry-sur-Seine, Maison de la Culture de Tournai, Théâtre Sorano, Théâtre de la Bastille, CDN Orléans / Centre-Val de Loire, La Coop asbl / Shelter Prod

40º Festival de Almada. Palco Grande. Escola D. António da Costa. Almada, 18 de julho de 2023.

Afonso Becerra

Afonso Becerra

Director da erregueté | Revista Galega de Teatro. Pertence ao seu Consello de Redacción desde o 2006. Doutor en Artes Escénicas pola Universitat Autònoma de Barcelona. Titulado Superior en Dirección escénica e dramaturxia polo Institut del Teatre de Barcelona. Titulado en Interpretación polo ITAE de Asturies. Dramaturgo e director de escena. Exerce a docencia en dramaturxia e escrita dramática na ESAD de Galiza desde o ano 2005. É colaborador, entre outras publicacións, de revistas de cultura e artes performativas como 'ARTEZBLAI', 'Primer Acto', 'Danza en escena', 'Tempos Novos', 'Grial'. Entre setembro de 2019 e xuño de 2021 foi colaborador especialista en artes escénicas da CRTVG, no programa 'ZIGZAG' da TVG. Desde setembro de 2022 é colaborador semanal sobre artes escénicas do 'DIARIO CULTURAL' da RADIO GALEGA.
Premio Álvaro Cunqueiro da Xunta de Galicia en 2001. Premio María Casares á Mellor Adaptación teatral en 2016. Premio de Honra do Festival de Teatro Galego, FETEGA, do Carballiño (Ourense) en 2020. Mención Honrosa no Premio Internacional de Xornalismo Carlos Porto 2019 do Festival de Almada (Portugal, 2020).

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