Prestes a chegar às 13 edições, de 1 a 10 de fevereiro, o GUIdance vai exercitar uma vivência, tão larga quanto possível, com o corpo e a humanidade no centro da dança criada e protagonizada por artistas de diversas e distantes origens como Victor Hugo Pontes, Panaibra Gabriel Canda, Gio Lourenço, Wayne McGregor, Beatriz Valentim, Piny, Gaya de Medeiros, Shimmering Production, Diana Niepce, e Tjimur Dance Theatre.
A Humanidade prepara-se assim para dançar em Guimarães, com o GUIdance 2024 a convidar-nos para um programa com 10 espetáculos e atividades paralelas em vários palcos da cidade de Guimarães como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e o Teatro Jordão (TJ).
A 13ª edição do festival começa a 1 de fevereiro (quinta-feira) com Bantu, espetáculo de Victor Hugo Pontes. “Bantu”, coproduzido pelo CCVF/A Oficina, designa uma família de línguas faladas na África subsariana: é identidade e é comunidade. Mas Bantu designa mais do que uma ocorrência linguística. Resultado de um convite endereçado a Victor Hugo Pontes pelos Estúdios Victor Córdon e pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo, “Bantu” reúne um elenco de bailarinos portugueses e moçambicanos. A celebrar 20 anos de carreira, o coreógrafo utiliza a linguagem universal da dança para criar pontes entre Portugal e Moçambique, dois países com afinidades complexas e memórias comuns.
Abertas as hostes no palco, a presença e influência africanas no GUIdance 2024 voltam a sentir-se nos dias seguintes em Time and Space: The Marrabenta Solos (2 fevereiro), de Panaibra Gabriel Canda, coreógrafo e bailarino nascido em Moçambique, sendo hoje um dos coreógrafos mais influentes de África, que aqui apresenta um espetáculo que explora uma crise de identidade, desconstruindo representações culturais de um corpo africano “puro”, em particular o corpo moçambicano; e em Boca Fala Tropa (3 fevereiro) de Gio Lourenço, criador e performer nascido em Angola e com vivência em Portugal, com um espetáculo que parte de um corpo a vários tempos e tendo como base os movimentos do Kuduro (surgido nos anos 90, em Luanda, no contexto de uma guerra civil), construindo um itinerário biográfico onde o corpo se torna uma alegoria da memória.
A entrada no primeiro fim de semana desta edição faz-se com a estreia nacional de UniVerse: A Dark Crystal Odyssey, do coreógrafo e diretor britânico multipremiado Wayne McGregor, que assim marca o seu regresso a Guimarães acompanhado por extraordinários bailarinos da sua Companhia para interpretar um espetáculo cuja tecnologia imersiva de última geração circunda a coreografia sobre-humana numa ode contemporânea à mudança necessária, neste mito ecológico moderno que questiona como nos poderemos unir para sermos inteiros novamente. Apresentado pela primeira vez em Portugal a 3 de fevereiro no CCVF, este espetáculo comovente e surpreendente sobre a crise climática tem inspiração no clássico de culto de Jim Henson (The Dark Crystal) sobre um planeta doente e uma raça dividida, necessitando urgentemente de cura.
A ancestralidade, que é futuro e presente, e a sua ligação a África voltam a sentir-se para abrir a segunda semana de espetáculos do festival com .G Rito da criadora e intérprete Piny, nascida em Lisboa e com ascendência portuguesa e angolana (7 fevereiro), num momento que nos vai confrontar com uma anulação do tempo linear, do espaço concreto, onde um grito é dado numa narrativa desalinhada mas precisa, sem geografia mas com as geografias das histórias das intérpretes e cocriadoras deste espetáculo, cujos corpos são políticos, celebram, desejam, revoltam-se, amam-se, protestam.
Esta viagem encaminha-nos logo de seguida para Atlas da Boca (8 fevereiro), dirigida e criada por Gaya de Medeiros com atuação e cocriação de Ary Zara, um espetáculo apresentado no Aerowaves Spring Forward 2022 – evento promovido pela mais importante rede europeia de apoio à dança contemporânea emergente, onde se inclui o Centro Cultural Vila Flor como “presenting partner” – e que espelha a investigação de dois corpos trans acerca da boca como ponto de união entre a palavra, a identidade e a voz, o público e o privado, o erotismo e a política.
Alcançando geografias mais longínquas, na reta final desta edição há uma viragem para coordenadas asiáticas, com a oportunidade de abraçarmos as estreias nacionais de duas criações provindas de Taiwan.
O espetáculo Beings (9 fevereiro), apresentado no Aerowaves Spring Forward 2022 e coreografado e interpretado por Yeu-Kwn Wang, fundador da Shimmering Production – criador que recentemente recebeu três prêmios na 27ª Yokohama Dance Collection no Japão, tornando-se o primeiro coreógrafo taiwanês a realizar essa conquista – encontra inspiração no caractere chinês “人” (pessoa), explorando os laços que ligam profundamente os seus dois intérpretes num dueto emocionante que culmina numa reviravolta inesperada.
bulabulay mun? (10 fevereiro), dos Tjimur Dance Theatre – o primeiro grupo de dança profissional de Taiwan que se concentra no povo Paiwan contemporâneo, fundado pelo diretor artístico Ljuzem Madiljin, em 2006, com Baru Madiljin como diretor de dança e coreógrafo – é o espetáculo que encerra esta edição do GUIdance no grande palco do CCVF. Reconstruindo uma batalha histórica que foi esquecida com o passar do tempo, conhecida como o “Incidente Mudan de 1987”, com envolvência militar japonesa, caminham como soldados que marcham para a guerra, com os ritmos de baladas antigas, gritando para o céu e para a terra, numa forma de enviar saudações aos espíritos antigos, às pessoas que vivem atualmente na tribo Mudan e até mesmo ao povo japonês, num sentimento de unidade e união, porque somos mais fortes quando permanecemos juntos.
No derradeiro dia desta edição (10 fevereiro), ainda antes das luzes se acenderem para bulabulay mun?, todos os holofotes se projetam ao final da tarde para o espetáculo Anda, Diana , da artista Diana Niepce. Bailarina, coreógrafa e escritora, e também professora, Diana Niepce retrata neste espetáculo a reconstrução do seu “eu”, depois de uma queda (na qual ficou com uma lesão medular), num diálogo honesto entre corpo e mente, entre lógica e caos, até construir o corpo que dança. Assim transforma o corpo num instrumento de revolução, questionando a norma, desafiando preconceitos e ideias através da criação de novos padrões de valores estéticos, obrigando-nos a questionar sobre o que está para além da dança, para além do corpo.
No âmbito da programação de Educação e Mediação Cultural, Beatriz Valentim traz ao GUIdance o seu espetáculo O que é um problema? (4 fevereiro). Dedicado ao público juvenil, aqui partimos à descoberta de alternativas, num caminho que se adivinha complexo e desafiante, encontrando problemas na arquitetura do próprio corpo e nas suas limitações. Nesta criação, o próprio corpo, curioso e perspicaz, procura e dá a mão a um percurso prestes a ser descoberto através do movimento, da construção, do desenho e dos sons.
Acompanhando tudo isto, e dando continuidade à missão de aproximar as artes e os artistas ao público, esta edição do GUIdance é fortalecida com atividades paralelas como masterclasses orientadas pela companhia de Wayne McGregor e pela Tjimur Dance Theatre – experiência única de trabalho criativo que permitem a bailarinos/as e alunos/as de dança de nível avançado um contacto privilegiado com alguns dos mais conceituados criadores internacionais da dança contemporânea; conversas pós-espetáculo com os criadores e as companhias que se apresentam nesta edição; debates moderados por Claudia Galhós; visitas às escolas de Guimarães com os artistas que fazem parte do programa do festival; ensaio aberto do espetáculo Bantu para escolas de dança; uma oficina para crianças e famílias; sessões de cinema em colaboração com o Cineclube de Guimarães e ainda uma atividade que dá continuidade à iniciativa “Bailar em Casa” na Casa da Memória – onde pessoas se reúnem às quintas-feiras para dançarem músicas de vários pontos do globo e à qual o GUIdance se junta e convida toda a gente a entrar na roda de dança –, surgindo nesta ocasião também no formato complementar “Bailar Fora de Casa” a ter lugar no Grupo Recreativo 20 Arautos de D. Afonso Henriques, a 1 e 7 de fevereiro, respetivamente.
E é bom lembramo-nos que “A arte é um ponto de explosão do imaginário que o espírito empurra para um corpo ou para outro espírito. Tudo isto é tão mais revolucionário quando ganha movimento. Por isso, sigamos na dança que transforma o mundo e empodera a humanidade que nos define.” (Rui Torrinha)
Os bilhetes para os espetáculos encontram-se disponíveis por valores entre os 2 e os 10 euros, podendo ser adquiridos online em oficina.bol.pt e presencialmente nas bilheteiras de equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) ou a Loja Oficina (LO), bem como entidades aderentes da BOL. Esta edição contempla também a possibilidade de aquisição de assinaturas que garantem acesso a 2, 3 ou 4 espetáculos à escolha, com descontos de 20%, 30% e 40% respetivamente.