No ano 1990, Judith Butler publica o estudo Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity, revolucionando os estudos de género. Tendo 17 anos regalárom-me este livro, por petiçom própria, e hei de confessar que nunca cheguei a rematá-lo. Logo desse intento frustrado, voltei ao longo dos anos e lim fragmentos, mas nunca o livro inteiro dumha vez. Acabei entendendo a teoria queer de Judith Butler graças a conversas com colegas. O teatro parece que temos claro que é social, fai-se em comunidade, ainda que às vezes há que o lembrar. A filosofia deveria ser mais social, comunitária, deveria levar-se à sociedade, à gente normal, em vez de ficar nuns círculos e numhas verbas fechadas.
No ano 2020, Gena Baamonde presenta na Universidade de Vigo a súa tese de doutoramento titulada Sexualidades Des-Xeneradas na Práctica Escénica Contemporánea. Após apresentar 4 borradores, em maio de 2021 estreia-se em Compostela a obra Metodoloxías carroñeras para corpos invertidos, a encenaçom desta tese. Este trabalho académico de teoria artística e filosófico pretende elaborar unha genealogia das práticas cénicas contemporáneas que questionam a heteronorma e os géneros binários em territorio espanhol.
Quando pensamos em teoria queer venhem-se-nos à mente grandes nomes, nomes que ressoam no nosso imaginário coletivo queer, nomes que tenhem poder. Da mesma forma que todo o mundo sabe quem é Rosalía de Castro, porque forma parte do imaginário coletivo galego, toda pessoa queer deve saber quem é o grande filósofo maricom que morreu de sida. Bom, minto, provavelmente a maioria da gente queer nom saiba quem é Foucault, mas por algumha estranha razom à gente LGBT+ exige-se-lhe ser experta em teoría queer, em Foucault, em Butler. E pouca gente leu Gender Trouble ou a Histoire de la sexualité, mas dumha forma ou doutra temos ês sues autoris endeusades nas nossas mentes queer. Foucault, francês, que és um francês!
Metodoloxías carroñeras começa como umha conferência filosófica ao uso. Apresenta-se- nos às conferenciantes: Gena Baamonde e Julia Laport, neste caso. Já nesta apresentaçom se deixa claro o código, isto nom vai ser umha conferência ao uso, apresentam-se como um par de cómicos que vam fazer um sketch paródico ficando súper sérios, como esses que temos visto polo televisor. E segue no mesmo tom, ainda que a primeira parte achega-se mais a um formato conferência que o que vem depois.
O humor está presente durante toda a peça. Num momento cobra vida lá no palco Judith Butler, a grande figura queer por excelência, QUEER com maiúsculas. E lá está, ê Butler a falar espanhol e galego em sonhos, por algumha estranha razom. Divina Huguet e Teresa Martín Ezama no ano 2009 sonham com que Butler é um homem. Judith Butler nom é um homem, mas tampouco umha mulher. Cumha rápida pesquisa por internet podemos ver que é umha pessoa nom binária, até o é legalmente falando, algo que baixo a legislaçom espanhola ainda nom é possível. Também podemos atopar facilmente entrevistas que lhe figêrom nos últimos anos nas que di que prefere ser tratade em género neutro, mas segue- se-lhe tratando em feminino. Nem sequer respeitamos a identidade dumhe referente. Onde estám os corpos invertidos críticos? Que corpos importam? Que nos importam dos corpos invertidos?
Esta conferência performativa filosófica queer invertida anti-academicista tem três paragens: Foucault, Butler e Preciado. Paul Preciado é conhecido por ser quem trouxo a teoria queer a Espanha, claro que naquel momento nom se chamava Paul. Este senhor fijo-se famoso com outro nome, um cisnome do que nunca puido desprender-se. A sorte de mudar de nome com 24 anos sendo umhe complete desconhecide é que dentro de anos, quando alguém quiger procurar o meu anterior nome, nom lhe será mui fácil atopá-lo por internet. Paul nom tem essa sorte. Tem livros fundamentais da teoria queer assinados com esse outro nome.
Metodoloxías carroñeras descobre-nos um género teatral profundamente lésbico do Japom, o Takarazuka. Polo que comentamos após a peça, nom era a única que nom conhecia nada disto. Um teatro musical feito interpretado inteiramente por mulheres. Nasceu desde umha ótica conservadora e acabou sendo um referente lésbico. As artistaças que temos cima do palco, referentes lésbicas da cena galega, até fôrom ao Japom para vê-las.
Corpos invertidos, onde estamos? No teatro galego, umha das obras com mais éxito da história, se nom a que mais, era lésbica, feita por lésbicas, para lésbicas. Falo de Elisa e Marcela, da Panadaría, obviamente. Para lésbicas, isto é importante. Lembro quando vim por primeira vez essa peça, porque a vim um total de quatro vezes, que à saída do teatro dizia umha colega lésbica “por fim, por fim podemos ver-nos numha história de lesbianas, por fim nom temos um drama bolho”.
Para quem está feito Metodoloxías carroñeras? Para corpos invertidos? Creio que, em primeira instáncia, sim, porque o merecemos. Em princípio, parece que tem um nicho de público bastante reduzido, gente interessada em filosofia queer e a sua representaçom cénica. Nesse nicho entro eu, e por isso estou escrevendo isto, nom nos vamos enganar, mas convido ao resto de corpos a ver isto, se calhar levam umha surpresa. É teorizaçom com humor, ao fim e ao cabo.