O símbolo trans dado a volta. Umha bandeira colocada do revés implica que um território está tomado polo inimigo.
Há anos, as instituçons desportivas começárom a impor limites de testosterona para poder competir nas categorias femininas. Num começo, isto estava pensado para que as atletas trans nom tiveram umha suposta vantagem sobre as suas companheiras cis.
Nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro 2016, a atleta Caster Semanya, umha atleta cis, consegue o ouro em 800m e é acusada de ter umha vantagem competitiva sobre o resto de atletas por ser intersexual. Esta polémica acaba por obrigar-lhe a Caster Semanya a tomar umha medicaçom para baixar os seus níveis de testosterona. Ainda que recorreu a imposiçom da Associaçom Internacional de Federaçons de Atletismo perante o Tribunal Arbitral do Desporto, este acabou por resolver contra Caster Semanya, autorizando entom essa medicaçom obrigatória para poder competir.
Curiosamente, nom vemos notícias deste tipo nas categorias masculinas, só se sinala às mulheres, forem trans ou cis. Nom se lhe obrigou nunca a Usain Bolt a tomar algumha medicaçom por ter umha vantagem biológica na composiçom dos seus músculos que fai que poida correr mais rápido. Ou o mesmo podemos dizer da anatomia do Michael Phelps, que o fai imbatível nadando. Nom, o problema está nas mulheres que tenhem uns níveis de testosterona superiores ao que consideram válido para serem consideradas mulheres. Nom é só umha simples questom biológica, estám a discutir que mulheres com corpos diferentes sejam realmente mulheres.
Run, Baby, Run traslada-nos esta realidade a umha atleta intersexual de Laça, Alba Loureiro.
Eu pensei até que o feito de pôr-lhe o nome da atriz à personagem poderia ser porque esta atriz é publicamente intersexual e lhe acontecera umha história semelhante na vida real, mas nom vam por aí os tiros. Polo que explicou numha entrevista a própria dramaturga foi todo umha casualidade: escreveu a personagem de Alba Loureiro sem conhecer a atriz Alba Loureiro. Parecia todo umha cousa do destino.
Além do plano realista e a referência a estas histórias de discriminaçom no desporto como a de Caster Samanya, há um outro plano no que temos a natureza e a espiritualidade galega.
Ambos planos convergem na cenografia. O espaço cénico é umha pista de atletismo na natureza, umha simbiose entre a história real da que se parte e o mundo metafórico que criam. Nesse mundo metafórico, ainda temos outros dous planos: o do rito galego do Entroido, cos peliqueiros de Laça, e o da natureza selvagem, coas fragas galegas e Alba Loureiro reencarnada num cavalo. Convergem também entom dous grandes ritos: o Entroido de Laça e o teatro shakespeariano com Nick Bottom. E este Bottom peculiar, que pede ajuda a sua avoa meiga galega, perde as suas crinas quando já nom lhe deixam galopar e lhe obrigam a mudar o seu corpo.
Alba Loureiro nega-se a tomar nenhum tipo de medicaçom para mudar o seu corpo e perde a luita. A comunidade desportiva, o jornalismo e até a sua própria adestradora voltam-se na sua contra e dam-lhe as costas. Alba perde a luita. Por muito que a peça remate cumha reconciliaçom coa adestradora (perdom polo spoiler, mas o importante desta peça, como muitas outras, nom é a história, é como está contada, ide vê-la igualmente), a história acaba mal, a protagonista nom consegue o seu objetivo. E alegro-me, porque essa é a realidade. A realidade é que, no mundo transfóbico e misógino no que vivemos, Alba só poderá correr no Entroido de Laça como peliqueira, mas nunca a vam deixar competir a nom ser que passe polo aro do sistema.
So run baby run baby run baby run
Baby run
From the old familiar faces and
Their old familiar ways