in ,

O Eu.Experimento do Camões CCP en Vigo homenaxea á súa actriz Ana Sousa, recentemente falecida

Este xoves, quinta-feira, 18 de decembro, ás 20h. no Camões – Centro Cultural Portugués en Vigo

Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra
Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra

O grupo de teatro amador do Camões – Centro Cultural Portugués en Vigo, dirixido por Afonso Becerra de Becerreá, vai dedicar a representación de parte do espectáculo que estaban a preparar, titulado Ai, Mário Viegas, Ai!, á memoria da actriz Ana Sousa.

Carmen Lois, Ana Sousa e Ernesto Luis. Foto: Afonso Becerra.
Carmen Lois, Ana Sousa e Ernesto Luis. Foto: Afonso Becerra.

A homenaxe vai ser realizada polos seus colegas do grupo: Ernesto Luis, alumno Erasmus da ESAD de Galiza procedente da Universidade de Maputo (Mozambique), Carmen Lois, Nuria Otero e Afonso Becerra.

Ana Sousa era alumna Erasmus da ESAD de Galiza, procedente da Licenciatura em Teatro do Instituto Politécnico de Coimbra e formaba parte do Eu.Experimento desde finais de setembro de 2025.

O grupo estaba creando a primeira parte dun díptico teatral, inspirado no actor e creador portugués Mário Viegas, composta pola escenificación de catro textos de Contos do Gin Tonic de Mário-Henrique Leiria, cos que o propio Mário Viegas facía un dos seus espectáculos máis lembrados, para rematar con Cantiga dos Ais, de Armindo Mendes de Carvalho. A estrea, estaba prevista para este xoves, quinta-feira, 18 de decembro, ás 20h. no Camões – Centro Cultural Portugués en Vigo.

Debido á morte de Ana Sousa na semana anterior, os seus colegas decidiron mostrar algúns fragmentos da creación teatral que estaban preparando con Ana Sousa, dándolle ao acto deste xoves, quinta-feira, unha orientación para a homenaxe e a lembranza da súa compañeira.

Ernesto Luis, Carmen Lois e Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra.
Ernesto Luis, Carmen Lois e Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra.

O pasado luns, 15 de decembro, ás 18h., toda a comunidade da Escola Superior de Arte Dramática de Galiza celebrou un acto de homenaxe á alumna falecida, coa presenza da súa nai e familiares, no que interveu o equipo directivo, alumnado e profesorado.

Homenaxe a Ana Sousa na ESAD de Galicia. Foto: Afonso Becerra
Homenaxe a Ana Sousa na ESAD de Galicia. Foto: Afonso Becerra
Vanesa Sotelo, Dani G. Salgado, Roberto Pascual e María Francelina (equipo directivo) na homenaxe a Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra
Vanesa Sotelo, Dani G. Salgado, Roberto Pascual e María Francelina (equipo directivo) na homenaxe a Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra

Programa de man

AI, MÁRIO VIEGAS, AI! em memória de ANA SOUSA

Por Afonso Becerra de Becerreá

Na folha de sala do espectáculo que estivemos a criar, desde finais de setembro até à semana de 8 a 14 de dezembro, escrevi sobre pessoas excecionais, que trazem uma luz especial. Tal era o caso de Mário Viegas, um artista do teatro português que se foi no Dia das Mentiras, o primeiro de abril de 1996, e que continua presente não só na lembrança das pessoas que tiveram a sorte de o conhecer, ou de ver algum dos seus espectáculos, mas também, como uma lenda viva, nas outras pessoas que, sem o ter visto, necessitam e apreciam a sua luz.

Ernesto Luis, Carmen Lois e Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra
Ernesto Luis, Carmen Lois e Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra

Foi Mário Viegas quem inspirou o trabalho animado e prazenteiro que estivemos a fazer este tempo, nós, as cinco pessoas que integram o Eu.Experimento. Uma vivência internacional pela participação de Ana Sousa (Coimbra), Ernesto Luis (Maputo), Carmen Lois (Cangas do Morrazo) e Nuria Otero (Vigo). Um divertimento porque, sob a luz de Mário Viegas e os textos invulgares de Mário-Henrique Leiria, no jogo teatral surgiam pequenas cenas, simples e reveladoras. Cenas simples e excecionais sobre inquietações comuns.

Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra
Ana Sousa. Foto: Afonso Becerra

De repente, uma semana antes da estreia do espectáculo, chegou-nos a notícia horrível da morte de Ana Sousa, a nossa colega, e ficámos chocados. Uma atriz de vinte anos com uma luz especial, talentosa e trabalhadora. Uma pessoa muito querida, alegre, vital, sempre bem-disposta, como artista, para experimentar as propostas de encenação, para mudar o rumo se fosse necessário. Aliás, a Ana Sousa era uma criadora que, além de atuar com base numa escuta integral, sabia fazer propostas, inteligentes e sensíveis, em ação. Uma pessoa muito empenhada e com enorme envolvimento, de tal maneira que os ensaios com ela eram intensos.

Carmen Lois e Ana Sousa na cena "Medicina Tropical". Foto: Afonso Becerra
Carmen Lois e Ana Sousa na cena “Medicina Tropical”. Foto: Afonso Becerra

Fui muito feliz partilhando contigo, Ana, o processo deste pequeno espectáculo, inspirado em Mário Viegas. Tu também foste uma inspiração para mim. Não to disse porque acho que estas coisas não são para dizer, são para viver enquanto estamos em processo, e porque foi sob a tua luz que eu fui vendo o caminho da encenação.

Estou muito contente de te ter conhecido um pouco nesses ensaios em que brincámos e em que, através do teatro, descobrimos alguns pormenores sobre o mundo e sobre as pessoas.

Não vou esquecer a tua performance a dançar aquela figurinha que aparecia a uma escritora a fugir dos pesadelos, que também tu mesma interpretavas. A cena da escritora que procurava histórias, afastando-se do ruido, a que ia ser o primeiro quadro do espectáculo, a partir do conto de Leiria titulado “Pôr-Do-Sol”.

Vou continuar a lembrar o teu doutor fantástico, grotesco e divertido, na encenação do conto “Medicina Tropical”, com Carmen Lois.

E também acho inesquecível o vitalismo contagiante dos teus “Ais!” na coreografia teatral que fizemos com “Cantiga dos Ais”, de Armindo Mendes de Carvalho.

Foi uma delícia o tempo de vida que partilhámos, a fazer aquilo de que mais gostávamos.

Vamos ter imensas saudades de ti, mas também te digo que o vivido contigo foi tão especial e tão bom que nos constitui e, portanto, forma parte do que somos e do que vamos ser. E aí tu continuas viva e vais continuar, como o Mário Viegas continua. O teatro é uma arte viva, e tu já formas parte do nosso teatro e da nossa memória, porque o teatro também é memória viva. E o teatro e a memória não podem morrer.

Nuria Otero, Ana Sousa, Ernesto Luis, Carmen Lois e Afonso Becerra.
Nuria Otero, Ana Sousa, Ernesto Luis, Carmen Lois e Afonso Becerra.

Ai, Mário Viegas! Ai! (Primeira parte)

O MUNDO SÃO AS PESSOAS

Por Afonso Becerra de Becerreá (dramaturgia e encenação)

O mundo são as pessoas. O mundo somos nós. E é disso que costuma a falar o teatro em que nos refletimos. De entre essas pessoas, se calhar, há algumas excecionais, ou, se calhar, cada pessoa é uma exceção, só é necessário conhecê-las. Mas isso também não é assim tão fácil. Nunca o foi e agora acho que o é ainda menos, devido ao isolacionismo que promovem os ecrãs e as horas de vida dedicadas ou imersas no mundo digital e no fazer compulsivo (produzir/consumir).

Por falar em pessoas, quando conheci a Célia Guido Mendes (diretora deste nosso Centro Cultural Português em Vigo), acho que logo no primeiro dia surgiu o nome de Mário Viegas (1948-1996). E eu não sabia quem era aquele fenómeno que, em dada altura, se tinha cruzado na vida da Célia. O que ela me disse dele, e a maneira em que mo disse, fez com que a minha curiosidade andasse à procura do Mário. Foi então que perguntei ao Miguel Martins, nas minhas idas e vindas ao Festival de Teatro de Almada, e outra vez vi aparecer, no rosto e nos olhos do Miguel, uma expressão parecida com a da Célia ao falar de Mário Viegas. O Miguel começou a sua carreira artística quando era um adolescente, participando em Peço a palavra, aquele programa da televisão portuguesa que já é um mito, tal como o próprio Mário Viegas. Também perguntei a Teresa Cayolla Porto, viúva de Carlos Porto, o dramaturgo e crítico teatral que dá nome aos Prémios Carlos Porto da Câmara Municipal de Almada, e novamente observei como mudava a expressão do seu rosto, como se estivesse iluminado por uma estrela deslumbrante. Todas as pessoas que conheceram, de uma ou de outra maneira, Mário Viegas, disseram-me coisas incríveis, espantosas, maravilhosas. Miguel Martins explicou-me que, quando no Festival de Almada faltava alguma companhia por qualquer causa de última hora, o recurso que garantia sempre sucesso era chamar o Mário para que representasse Contos do Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria, um espetáculo que podia durar uma hora, duas ou três, dependendo da noite e do público.

A 1 de abril de 1996, Dia das Mentiras, morreu Mário Viegas, aquele artista teatral inclassificável, brilhante, provocador, que dá nome a uma das salas do Teatro São Luiz, em Lisboa. Cumprem-se em 2026 trinta anos do seu desaparecimento físico, mas a lenda continua e nós, o Eu.Experimento, queremos celebrá-la. A figura de Mário Viegas e tudo o que a rodeia é muito atraente. Ouvimos o que nos contaram algumas pessoas que o conheceram, vimos imagens e vídeos dele e de alguns excertos das suas performances e espetáculos e pegámos em Contos do Gin-Tonic, de Leiria. Em tudo isso descobrimos as arestas do mundo através de um humor por vezes surrealista, entre o sonho e o pesadelo. Descobrimos que o mundo são as pessoas, nós.

Carmen Lois, Ernesto Luis e Ana Sousa em 'Ai, Mário Viegas, Ai!'. Foto: Afonso Becerra
Carmen Lois, Ernesto Luis e Ana Sousa em ‘Ai, Mário Viegas, Ai!’. Foto: Afonso Becerra

No laboratório do Eu.Experimento, desde meados de setembro até 18 de dezembro de 2025, escolhemos e brincámos com os Contos do Gin-Tonic e percebemos que cada um deles era um riso e um ai, uma graça e uma desgraça, um sorriso e um lamento. Se calhar foi por isso que vamos fechar esta primeira parte da nossa homenagem a Mário Viegas com Cantiga dos Ais, de Armindo Mendes de Carvalho, ao estilo da nossa estrela Mário Viegas. Mas, antes da Cantiga dos Ais, vão os Ais teatrAIS seguintes:

  • “Pôr-do-Sol”, com Ana Sousa, a refletir sobre os limites entre imaginação, pesadelo e trabalho, através de uma escritora que quer ser feliz com o que faz, mas… Ai!
  • “Carreirismo” ironiza sobre os percursos de vida do ladrão que acaba por ser chefe da polícia. Ernesto Luís escreve duas breves cenas, interpretadas por ele e por Carmen Lois, com a colaboração de Ana Sousa e de Nuria Otero, oferecendo-nos uma perspetiva mais otimista do que a do texto de Leiria, mas… Ai!
  • “Noivado”, com Nuria Otero e Ernesto Luís, coloca-nos face ao amor que, mais do que cego, é míope e remete-nos novamente para a questão da felicidade que nos pode trazer, mas… Ai!
  • “Medicina Tropical”, com Carmen Lois e Ana Sousa, é metáfora grotesca de quê? De que a solução perfeita para as nossas doenças talvez não esteja no consultório médico, mas então onde estará? Será a medicina o que nos traz esta cena? Mas… Ai!
Ernesto Luis e Nuria Otero, ensaiando. Foto: Afonso Becerra
Ernesto Luis e Nuria Otero, ensaiando. Foto: Afonso Becerra

Ai, Mário Viegas, Ai! é como um gin-tónico teatral inspirado pelo génio e pela figura de Mário Viegas, e interpretado por um pequeno elenco internacional, unido pelo teatro em língua portuguesa: Ana Sousa, aluna Erasmus da Licenciatura em Teatro do Politécnico de Coimbra; Ernesto Luís, aluno Erasmus da Licenciatura em Artes Cénicas da Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique, com o Professor Doutor Félix Bruno Mambucho; Carmen Lois e Nuria Otero, atrizes galegas do Eu.Experimento; e quem isto escreve, Afonso Becerra de Becerreá, a aprender brincando com o teatro, a descobrir, junto com Mário Viegas, que o mundo são as pessoas, que o teatro somos nós.

Nuria Otero, Ernesto Luis, Ana Sousa e Carmen Lois. Foto de ensaios: Afonso Becerra
Ana Sousa e Carmen Lois. Foto de ensaios: Afonso Becerra
Redacción

Redacción

Redacción

Somos a erregueté | Revista Galega de Teatro.
A única publicación periódica que ten como obxecto as artes escénicas galegas dende 1983.

Deixa unha resposta

O teu enderezo electrónico non se publicará Os campos obrigatorios están marcados con *

'Palíndromos e viceversos' no XX Catropezas de Teatro Ensalle.

20 anos do festival Catropezas de Teatro Ensalle

José Afonso ao vivo

O Salón Teatro acolle o espectáculo ‘José Afonso, ao vivo nos Coliseus, 1983’