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MENU-DO DÍA

desde umha olhada pessoal e marica

'MENU-DO DÍA', na MITCF de Cangas, Imaxe de Corsino.
'MENU-DO DÍA', na MITCF de Cangas, Imaxe de Corsino.

Há dous anos pedim-lhe a umha companheira de trabalho que me cobrisse porque queria sair um quarto de hora antes para poder chegar à concentraçom que havia em Monterroso, que era a que mais perto tinha. Fum lá, berramos algo, ouvimos o manifesto da boca de Adrián Gallero, e tam pronto acabar, fum para o carro e marchei para a casa. Nem esperei a saudar a gente, como seria habitual. Fum para a casa chorando. Foi a primeira vez que chorei numha manifestaçom. Nom conhecia a Samuel, mas sentim-no como se o conhecera. Chorei porque sentim que a seguinte podia ser qualquer de nós.

Alberte era o nosso menu do dia naquela sala de exposiçons. O menu do dia dumha sociedade merdenta cheia de purpurina. Umha sociedade na que matam a Samuel, na que tiram umha rapaza trans da muralha de Lugo, na que agridem a Alberte por ser maricom. Umha sociedade que normaliza que um partido LGBTfóbico poida governar-nos (e nom me estranharia que este partido esteja governando no Estado Espanhol quando leias este artigo).

Vemos entrar no espaço um lixo antropomórfico FRÁGIL numha mesa rodante de catering. Nom tem identidade própria. Nom fala em toda a peça. É umha boneca coa que jogar, coa que jogamos. Esse lixo será logo um macaco come plátanos, um corpo humano com pene, um manequim de provas da autoestrada da vida dum maricom ou a reencarnaçom de certa personagem cómica ao telefone. Pero segue sem falar.

Após vermos a peça, fiquei a falar com algumas pessoas que estavam comigo no público, apetecia-me socializar e nom fugir para a casa. Assim falando com alguma gente, comentamos que a obra era mui explícita por momentos, mas, ao contrário do que se ensina nas aulas de dramaturgia, aqui o explícito nom matou a arte. A fórmula de que “o explícito mata a arte” segue tendo o seu sentido, mas nengumha fórmula é universal. Se calhar, funcionou bem o explícito polo momento histórico no que estamos, porque, se calhar, agora o discurso explícito é necessário, porque nos estám MATANDO.

Após vermos a peça, dizia-me umha colega que se negava a ter umha olhada externa com esta peça, negava-se a nom deixar-se implicar nem deixar-se levar polo que lá estava acontecendo. Reduzindo bastante, a diferença entre que este artigo seja tildado de crítica ou de artigo de opiniom radica em se adoto essa mirada analítica ou se me deixo levar. E eu concordo com essa colega, nom me apetece adotar essa mirada analítica, fria. Prefiro falar desde a subjetividade marica, prefiro opinar, já haverá quem fale desde umha objetividade crítica, porque a mim também “me chamárom maricom antes de saber que o era”. 

Ouvimos vozes fascistas que se vam distorcendo cada vez mais enquanto essa figura desumanizada come plátanos cada vez mais rápido. É umha das imagens coas que fico do espetáculo, junto com muitas outras. A peça tinha umha estrutura tam clara, com tam pouco ruido, e cumhas imagens tam potentes (para mim, a nível emocional, nom só estético, claro), que me permite reconstruir bastante bem a peça na minha mente. Mui poucas vezes me ocorre isto. For por ruido (nom só sonoro), for por haver demasiados elementos, muitas vezes fico cum caos na minha mente.


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Há uns meses, nesta mesma revista, alguém dixo que “ser mulher nem é um sentimento, nem algo de quita e pom e menos ainda um coletivo”. Se calhar, esta frase pode parecer umha parvada, pero para as que conhecemos estes discursos isto é mui claramente umha negaçom das nossas identidades como dissidentes de género, isto é discurso transfóbico. Esta frase poderia estar perfeitamente junto às declaraçons fascistas desta peça.

Nesta peça há 3 línguas, se nom me equivoco (se calhar aparece o inglês nalguma música, nom lembro): galego, castelám e italiano. No espaço sonoro e no espaço caligráfico temos declaraçons políticas, notícias sobre LGBTfobia, citas de personagens LGBT, experiências pessoais e música.

Nas declaraçons fascistas que ouvimos enquanto Alberte come plátanos, sinto medo, agonia. Nas declaraçons fascistas que ouvimos mais adiante, nas chamadas que Alberte colhe ao telefone, o público escaralhava-se de risa ao ver as reaçons de burla de Alberte ao telefone, que ato seguido colgava e seguia co seu. Nesta última cena de chamadas, chamam a presidenta do governo italiano (fascista) e a vice-presidenta segunda do governo espanhol (de esquerdas). A primeira tem um discurso mais efetivo que a segunda a nível de forma. Coa segunda nom ria a gente. Coa primeira, Alberte burlava-se, de aí também que a gente rira. Coa segunda, mostrava interesse. Eu nom rim em nenhum momento, porque, ainda coas burlas na cara de Alberte ao colher o telefone, eu tinha medo do que estava a ouvir e espantava-me que a gente rira. Ainda assim, entendo que a gente ria com Alberte, nom com Meloni, ou isso quero pensar.

As músicas em italiano contraponhiam-se ideologicamente às declaraçons fascistas de Meloni. As músicas em castelám contraponhiam-se ideologicamente às declaraçons de PP e Vox. Se nom lembro mal, nom havia fascistadas em galego, em galego havia, tanto na voz em off como na palavra escrita, verbas alentadoras. Na voz em off, ouvimos a Alberte dizer que o chamárom maricom antes de saber que o era. Na palavra escrita, lemos a Alberte alentar-nos porque #SerDiferentesÉSerExistentes.

MENU-DO DÍA, Colectivo #ChamizoBelloVila

 

Direçom: Alberte Bello e Diego Chamizo

Performer: Alberte Bello

Espaço Sonoro: Colectivo #ChamizoBelloVila

Espaço Cénico: Alberte Bello

Figurinos e Vestiário: Alberte Bello e David Vila

Iluminaçom: Noa Iriarte

Textos: Alberte Bello, Diego Chamizo

Técnicos Audiovisuais: David Vila e Diego Chamizo

Fotografias: David Vila, Mario Herradón, Estudio Prolight

Vídeo: Carlos Babío

Teaser: David Vila e Alberte Bello

Em coproduçom coa 40 MITCFC.

Sala de Exposiçons do Auditório Xosé Manuel Pazos de Cangas, Mostra Internacional de Teatro Cómico e Festivo de Cangas, 7 de julho de 2023.

ê Ariel Q. Sesar

ê Ariel Q. Sesar

Ê Ariel Q. Sesar (esse "ê" é um artigo), pessoa de género incerto. Frequentei as aulas de Dramaturgia na ESADg, embora nunca chegasse a rematar os estudos. Agora frequento aulas de Ciências da Linguagem na UVigo. Escrevo dende a dissidência. Identifico-me e defino-me como dissidente na arte, na língua, no género e na vida.

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